A intensidade (quantidade) de dor não está relacionada com o tamanho da lesão. Podem existir lesões muito graves e a pessoa não relatar dor.
Quanto maior for a intensidade da dor maior deve ser a lesão? A intensidade da dor vai depender de muitos fatores, dentre eles as caraterísticas da neuromatrix, ou seja, as experiências passadas, o estado autonômico/emocional, situação no qual o indivíduo se encontra.
A dor é a maneira como o nosso cérebro julga (e expressa) que uma determinada situação representa uma ameaça ao corpo. Se houver um problema no nosso corpo e o nosso cérebro avaliar que não estamos em perigo, nós não sentiremos dor.
Dor é uma resposta perceptiva de proteção que pode ser produzida por informações sensoriais (bio), psicológicas (psico) ou contextuais (sociais) que sugiram ao cérebro que o corpo está em perigo. (Moseley, 2015).
Qualquer combinação de informações que leva o cérebro a concluir que o corpo está em perigo pode provocar dor.
Quatro tipos de relações possíveis entre a dor e a lesão, que ilustram o amplo espectro do fenômeno dor:
Lesão sem dor - a incapacidade de sentir dor, apesar da lesão (insensibilidade congênita à dor ou analgesia congênita).
Dor sem lesão - dor espontânea na ausência de estimulação nociva (fibromialgia).
Persistência da dor após a cura da lesão (Síndrome Complexa de Dor Regional).
Dor desproporcional à gravidade da lesão.
Quando você se machuca, se fere, o ambiente (o contexto) em que você está influencia a intensidade de dor que você sente.
É a PERCEPÇÃO de uma ameaça que determina a resposta de dor, não o dano tecidual em si ou a ameaça que esse dano representa para os tecidos. Percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, DOR É RESPOSTA E NÃO ESTÍMULO.
Os pensamentos também são sinais nervosos e os pensamentos virais (catastróficos e cinesiofóbicos), comuns em pessoas com dor persistente, são poderosos o suficiente para manter um estado de dor.
• "Estou com dor, então deve ter algo de ruim acontecendo no meu corpo.”
• “A tia Delfina tinha dor nas costas e ela agora está numa cadeira de rodas.”
• “O médico acha que eu estou inventando, pois não tem nada nos meus exames.”
• “Se nem a RNM encontrou a causa, deve ser coisa muito ruim e profunda.”
• "Estou tão assustado e com medo de me machucar de novo que eu não faço mais nenhum movimento ‘perigoso’."
• “Vou ficar em casa, deitado no meu canto, para ver se a dor acalma."
Estes pensamentos ruins (catastróficos), essas crenças (disfuncionais) e o medo (irracional) à atividade (cinesiofobia) podem aumentar a percepção da dor.
Além desses fatores, podemos ter alterações dos sistemas endócrino, imunológico e simpático, que controlam as funções autonômicas e aumentando também a percepção da dor.
Após todas essas informações sobre a dor, a conclusão é a seguinte: TRANQUILIZAR O CÉREBRO DIMINUI A HIPEREXCITABILIDADE, melhora o entendimento da dor de forma mais consciente, entendo que a dor não vai te prejudicar. Que sim, é possível manter um ritmo gradual para as atividades, evitando padrões de declínio ou de excesso/recesso.
Esteja perto de bons profissionais de saúde, de boas pessoas, que tragam orientações que tranquilizem no seu processo de dor.
Por Patricia Marchiori | Fisioterapeuta | CREFITO 115033
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Referências:
https://www.usc.br/custom/2008/uploads/documentos_pdf/docs_eventos/ETD.Bauru.Nov.17.pdf
David Butler e Lorimer Moseley - Explicando a Dor
RONALD MELZACK E PATRICK WALL. O DESAFIO DA DOR. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987 [Tradução do original inglês THE CHALLENGE OF PAIN, Penguin Books, 1982.]
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